sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Resenha Crítica "A Lingua de Eulália", por Eliane Cristina e Cacilda Conceição acadêmicas Letras/UNEB

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 16 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

Foto reprodução
A obra “A Língua de Eulália: novela sociolinguística”, do autor mineiro Marcos Bagno, pesquisador e estudioso na área de sociolinguística, tradutor, contista, poeta e autor de livros infantis, com formação em Letras, mestrado em Linguística e doutorado em Filologia e Língua Portuguesa, traz discussões sobre o percurso histórico da língua ao longo do tempo, como forma de compreender as mudanças ocorridas nessa, a partir da variação geográfica e, sobretudo, desvendar os mitos acerca do Português – Padrão e do Português Não-padrão.

Bagno (1992), objetivando desconstruir o preconceito linguístico existente nas diversas camadas sociais, utiliza-se de forma criativa e atrativa da narração, para abordar assuntos que, num primeiro momento poderiam ser cansativos e desinteressantes, evitando, desse modo, a mesmice da maioria dos textos científicos densos e complexos existentes no mercado. É uma obra que requer conhecimentos prévios da área de linguística para que se possa compreender certos exemplos, conceitos e comparações feitas pelo autor.

Uma característica especial da obra é a utilização de cinco personagens em torno de um fato inicialmente comum: uma viagem de férias, que, no entanto se desdobra para uma história muito interessante através da qual o leitor tem a possibilidade de desmistificar inúmeros temas relacionados à Língua Portuguesa e que até então eram vistos simplesmente como erros praticados pelas pessoas menos privilegiadas social, econômica e politicamente.

O livro “A Língua de Eulália: novela sociolinguística” constitui-se de vinte um capítulos, curtos e bastante explicativos, nos quais são apresentados vários exemplos, conceitos, fatos históricos e comparações que objetivam elucidar alguns aspectos do português não-padrão e mais especificamente, ao final de cada capítulo são apresentadas conclusões que vão desde o mito da unidade linguística no Brasil, a questão do falar diferente não significar falar errado, o erro e suas explicações científicas, bem com as lógicas dos “erros” no Português Não-Padrão e a sua relação com os arcaísmos, entre outras.

Configura-se como um livro científico e didático uma vez que traz fundamentos sobre a linguagem a partir de ideias e exemplos bastante originais e são apresentados de forma diferenciada através do enredo, sem perder a característica didática e científica e é voltado especialmente para estudantes de Letras, Linguística, Psicologia, Pedagogia e áreas afins.

Trata-se de uma obra que traz contribuições relevantes para o campo da Sociolinguística por mostrar, sobretudo, o fato de a língua portuguesa ter a tendência de, desde a antiguidade, reprimir através da educação institucionalizada, pelas normas da linguagem literária e escrita, o Português Não-Padrão, fazendo com que esse apareça como algo errado ou que cause estranheza.

Outro aspecto interessante é no que concerne às mudanças na língua que, segundo o autor, ocorrem nas variedades menos cultas, de forma natural e que vão sendo assimiladas pela variedade mais culta, até chegar a ser aceita, e, de fato, a fazer parte do léxico de determinada língua.

Assim sendo, pode-se afirmar que Bagno foi muito feliz ao escrever esse livro, pois faz com que o leitor possa desenvolver uma visão mais ampla e crítica em relação à Língua Portuguesa que é tão complexa e tão rica. O que foi abordado possibilita que se faça uma reflexão acerca do preconceito linguístico no intuito de combatê-lo e de respeitar as diferenças, especialmente as diferenças linguísticas.

 

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