SHAKESPEARE, William. O
Mercador de Veneza. Disponível no site www.helenabarbas.net/traduções/Mercador
de Veneza. Acesso em 02 de abril de 2012.
A obra “O Mercador de Veneza” de William
Shakespeare, dramaturgo e poeta inglês, aborda, de maneira cômica e um tanto
dramática, o contexto social de Veneza em meados do século XVI. Judaísmo é
conflitado com Cristianismo; a teoria do contrato é posta em discussão, bem
como a importância do uso da retórica ao profissional de direito, sendo
necessário por esse motivo, um conhecimento prévio por parte do leitor na área
jurídica. O autor utiliza-se de uma linguagem mista, oscilando entre o sofisticado
verso e a modesta prosa, dando lugar também ao uso de termos jurídicos.
O livro de divide em cinco atos, nos
quais o confronto entre judeu e cristão se dá pelos respectivos personagens:
Shylock e Antônio. Ambos emprestam capital, porém, o fato de o semita cobrar
juros os fazem grandes rivais. Acontece que Antônio se vê quase que obrigado a
tomar um empréstimo para ajudar seu amigo Bassânio, prestes a fazer uma viagem
para conhecer a jovem Pórcia, que está à procura de um marido. Recorre então a
Shylock, seu principal adversário, que aceita negociar com a seguinte condição:
Se a dívida não fosse paga até a data estabelecida, poderia o credor retirar
uma libra de couro do devedor no local mais próximo ao coração; estabelecendo
desse modo, um contrato entre as partes, devidamente aceito pelas leis
venezianas.
Os dias passam, Bassânio viaja; o prazo
de esgota e o mercador não consegue quitar a dívida, pois estava quase em
falência, já que seus negócios não iam bem. Em seguida, o judeu trata de tomar
suas providências levando o caso à justiça. Em meio a isso, Bassânio, que já se
encontrava casado, toma conhecimento da situação e decide viajar para pelo
menos poder ver o seu amigo pela última vez.
Perante o tribunal, o semita dispara com
um discurso capaz de comover o leitor acerca da situação em que vivera todos
esses anos, remetendo-o ao triste caso do Holocausto Judaico e justificando, ao
menos por um momento, seus sentimentos de rancor e ira em relação aos cristãos.
Já não interessava-lhe a quantia emprestada, e sim uma libra de couro do rival,
a qual praticamente já era sua.
Em meio a isso, surge Pórcia na figura
de Baltazar, um jovem advogado. Percebe-se a grande fragilidade do sistema
judiciário, a tal ponto de não conhecer uma mulher com um disfarce tão
simplista, que seria facilmente identificada. O fato é que ela, como toda sua
perspicácia, conseguiu reverter a situação, alegando que o contrato não previa
uma só gota de sangue, ficando assim impossível a retirada do couro. A decepção
do judeu foi ainda maior quando ficou determinado que metade de seus bens
passariam a ser propriedade do estado.
Trazendo essa obra à nossa realidade,
presume-se que o contrato nela firmado pode ser considerado nulo, embora
lavrado em cartório. Acontece que Shylock agiu de má-fé no momento em que disse
que a condição imposta seria brincadeira bem como por saber que os negócios do
rival não iam muito bem, assim, ficaria provável que este não lhe pagasse. Não
obstante a isso, observa-se que as condições pautadas no acordo ferem a um
direito indisponível: A integridade da pessoa humana; além de não respeitar os
limites da ordem pública, sobrepondo a vontade individual à coletiva.
De forma dogmática e minuciosa, Pórcia
interpretou gramaticalmente o contrato, levando em consideração somente o que
nele estava expresso, uma só gota de sangue que fosse derramada caracterizaria
violação do contrato e crime de lesão corporal. Apesar da brilhante defesa,
poderia ela ser condenada por falsidade ideológica, incorrendo também seu primo
Belário, que lhe dispôs falsamente o título de advogado para prestação de
serviço de caráter público. Através desse contexto, Shakespeare mostra a
importância da argumentação e retórica ao profissional de direito, que tem como
dever básico zelar pela justiça.
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