segunda-feira, 3 de março de 2014

Análise do documentário "Falcão: meninos do tráfico" sob o olhar das teorias criminológicas


INSTITUTO AVANÇADO DE ENSINO SUPERIOR DE BARREIRAS-IAESB

FACULDADE SÃO FRANCISCO DE BARREIRAS-FASB

CURSO DE DIREITO

 

MYLENA ROSALINA DA SILVA BRITO

RAQUEL CAMARA DA ROCHA GONÇALVES

VIVIANE FEITOSA MEDEIROS

 

 

 

 

 

ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “FALCÃO: MENINOS DO TRÁFICO SOB A ÓTICA DAS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS”

 

 

 

 

 

 

 

 

BARREIRAS

2013
 
 
 

MYLENA ROSALINA DA SILVA BRITO

RAQUEL CAMARA DA ROCHA GONÇALVES

VIVIANE FEITOSA MEDEIROS




 

 

 

 

 

 

 

 

ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “FALCÃO: MENINOS DO TRÁFICO SOB A ÓTICA DAS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS”

Análise apresentada a Faculdade São Francisco de Barreiras-FASB, como requisito parcial de avaliação da disciplina Criminologia, sob orientação do prof. esp. Aderlan Messias de Oliveira.

 

 

 

 

 

BARREIRAS

2013
 
 
 

O documentário Falcão: Meninos do Tráfico aborda a polêmica questão do tráfico de drogas, mostrando a realidade de pessoas que, como o próprio MV Bill diz, “não fazem parte das estatísticas. Apenas quando morrem”. Trata-se de crianças e jovens inseridas num meio no qual vigora a lei do mais forte, que vivenciam a todo tempo a criminalidade nas favelas e não possuem estrutura familiar. Vítimas de um sistema precário que não lhes oferece condições para que se viva dignamente. Sem alternativas, trabalham no tráfico de drogas como meio de se obter o sustento. Ao longo do filme, observa-se a similaridade que este apresenta em relação às Teorias Criminológicas, sobretudo ao aspecto Sociológico Criminal, que tem como precursor Enrico Ferri.

De acordo com a teoria da sociologia criminal, aspectos como idade, sexo, condições psicológicas, família, religião, moral, dentre outros, influem na etiologia delinquencial e fazem parte de fatores físicos, sociológicos e antropológicos, tripé no qual se fundamenta a teoria. Relacionando ao documentário, percebe-se que o fator social influencia na vida dos jovens que cresceram em um meio marcado pela prática criminal. Houve ainda falha no controle social informal –família- perceptível na fala de um dos meninos: - “MEU PAI SÓ CHEGAVA EM CASA PRA BATER NA GENTE [...] NUNCA ME DEU NADA, NUNCA TIVE UM ANIVERSÁRIO”. Além disso, vale ressaltar os fatores idade e sexo, que neste caso predominam crianças e jovens do sexo masculino.

Tomando por base algumas Teorias Criminológicas, há traços relacionados à Teoria da Desorganização Social, que foi uma das primeiras hipóteses acerca da criminalidade e se explica levando em conta a cidade na qual o indivíduo está inserido, que muitas vezes é resultado de um crescimento desordenado. O êxodo rural é um fator que contribui para essa desorganização que implicará numa falta de controle da vida privada exercida através dos controles sociais informais, fazendo com que a delinquência aumente. Assim, o infrator é produto do meio no qual se encontra, pois recebe estímulos deste e responde de igual forma. Contextualizando, esse aspecto é perceptível na seguinte fala: “NÓS NÃO VIVE NA SOCIEDADE, POR QUE NÓS MORA NO MORRO. NÓS NÃO É NADA. NÓS TEM QUE PROTEGER OS MORADOR; NOSSO MORRO”.

Nessa vertente se insere a Teoria da Associação Diferencial ou da Aprendizagem Social, na qual o crime é resultado de um processo de conhecimento. Da mesma forma com que se aprendem valores e o próprio comportamento legal, ou seja, permitido, se aprendem também comportamentos criminosos e não permitidos. Isso explica a nomenclatura “associação diferencial”, pois o modo com que se aprende é o mesmo, porém diferente quanto ao conteúdo. Referindo-se ao documentário, nota-se na fala de uma mãe que consegue visualizar em seu filho essa associação: “O MEU FILHO TEM TRÊS ANOS E ELE JÁ SABE O QUE É FUZIL, PISTOLA, ELE SABE O QUE É TIRO, MACONHA, PÓ DE CINCO, PÓ DE TRÊS, ELE SABE O QUE O TRÁFICO”.

Segundo a Teoria do Controle Social, a criminalidade pode ser entendida como uma construção de princípios, modelos, normas e sanções que se incorporam naturalmente ao indivíduo na medida em que este vai se socializando até que façam parte da própria personalidade do sujeito, que estará submetido a uma forma controle social. Esse sistema acontece em grupos sob o qual haja uma coesão, como por exemplo, o trabalho no tráfico de drogas que não deixa de ter sua ordem ou regras próprias de funcionamento no qual todos devem seguir. Na fala de um dos “falcões” observa-se as regras que ele segue: “TEM QUE CHEIRAR PÓ PRA NÃO DORMIR, EU SOU BANDIDO [...] TO NA VIDA DO CRIME, TO LIGADO QUAL É A RESPONSA”.

Há ainda a teoria do Labelling Approach, conhecida também por Teoria do Etiquetamento, propondo que a realidade não provém de fatos, mas de interpretações e entendimentos acerca desses fatos. Segundo a referida teoria, o Direito Penal se baseia em critérios seletivos e discriminatórios para se definir um tipo penal. Além do mais, há crimes que não fazem parte das estatísticas: É o fenômeno da cifra negra. 

Nessa ótica, as pessoas das classes menos favorecidas correm mais risco de serem etiquetadas como criminosas e por isso aparecem mais nas estatísticas, ao contrário do que acontece com os mais abastados. No caso em estudo, nota-se que os próprios moradores da favela percebem o quanto são mal vistos e etiquetados: “NÓS TEM POUCO ESTUDO [...] TÁ LIGADO QUE ELES DISCRIMINA NÓS. ENTÃO NOSSO ÚNICO RECURSO É ISSO AQUI. PRA SUSTENTAR NOSSA FAMILIA”

Na mesma vertente há a Teoria da Anomia que segundo Emile Durkheim pode ser entendida como um lugar em que não há normas ou que estas são ineficientes, pois não são cumpridas. Devido a essa falha o indivíduo se comportará de acordo ao que ele vivencia, elevando assim os níveis de criminalidade. Transpondo este pensamento à realidade mostrada no documentário, observa-se o não cumprimento da lei por parte da polícia, que contribui com o tráfico ao invés de tentar solucioná-lo e proteger a sociedade. “SE ACABAR O CRIME, ACABA A POLICIA, PORQUE QUEM DÁ DINHEIRO PROS POLICIAS SOMOS NÓS: O TRÁFICO DE DROGAS. SE NÃO FOSSE ISSO OS POLICIAS IAM TIRAR SÓ O SALÁRIO DELES. ENTÃO O TRÁFICO DE DROGAS NÃO VAI ACABAR TÃO CEDO”.

Nesse contexto existe ainda a Teoria da Subcultura Delinquente, explicada de modo que a delinquência atua de forma imperativa que se interioriza a conduta do sujeito como um código moral. Portanto, a delinquência não é característica das pessoas e sim de uma cultura. Trazendo esta categoria ao tema proposto, é notável na fala de um dos meninos: “FALCÃO NÃO DORME, ELE DESCANSA”. Através dessa fala percebe-se que a criança obedece a uma ordem imperativa, tendo consciência de que não pode dormir, mas apenas descansar, caso contrário sofrerá alguma sanção.

Assentada na ideia de que a pluralidade de culturas, ou seja, as contradições seriam determinantes na proliferação do crime, repousa a Teoria do Conflito Cultural. Segundo esta, a criminalidade resulta naturalmente das tensões sociais, que faz com que a grupo dominante considere as subculturas como desviantes e estas se veem cada vez mais distante do que se considera uma vida digna. Na fala de um “endolador”, (como se chama a pessoa que embala a droga), percebe-se que ele próprio possui consciência acerca da atividade ilegal que realiza, porém, não lhe deixam alternativas: “SE EU NÃO TIVER AQUI, NINGUÉM VAI CORRER ATRÁS, TÁ LIGADO? NÃO VOU TER UM FUTURO, EU NÃO VOU TER NADA. TÔ LIGADO QUE ESSA VIDA É SEM FUTURO, MAS PELO MENOS AQUI EU TO GANHANDO MEU PÃO”.

Na mesma linda de raciocínio situa-se a Teoria do Conflito Social que aponta uma forma de coação no desenvolvimento das organizações sociais. Sinaliza também problemas quanto à Justiça Penal, mostrando que esta age de acordo aos interesses dos detentores de poder, seja na fase de criação ou aplicação da lei. Cabe ressaltar o papel da polícia mostrada no documentário, que age conforme os seus interesses particulares – aceitando propina e consequentemente, o tráfico – e não levando em consideração a segurança social: “TEM ALGUNS POLICIAIS TAMBÉM QUE NÓS COMPRA ELES, DÁ 500, 800, 1.000 [...]  A GENTE PAGA PRA ELES PODER TRABALHAR E GANHAR NOSSO DINHEIRO”

Diferentemente das outras teorias do conflito, as Teorias Conflituais de Orientação Marxista afirmam que o crime é fruto patológico das relações de produção da sociedade capitalista, consubstanciado no conflito de grupos, sendo que a classe dominante explora a classe trabalhadora tendo respaldo do sistema que age conforme os interesses do grupo dominante. Há uma fragmentação da sociedade e o próprio delinquente relata: “COMO TÁ VENDO AÍ, SOU UM CARA QUE NEM ERA PRA TÁ AQUI, NA REALIDADE [...] MAS É ISSO AÍ QUE O GOVERNANTE QUER, ELES NÃO LIGA PRA NADA. PRA ONDE O DINHEIRO DO BRASIL VAI?”.

Com base nisso, conclui-se que os verdadeiros contrastes do cotidiano das periferias são muitas vezes suprimidos por estatísticas contraditórias que não demonstram o que de fato acontece. Meninos, meninas e adultos com sonhos de criança são vítimas de um sistema caótico que reflete nos controles sociais (informais e formais), transformando-os em falácias. “A GENTE TEM DOIS BRASIS E PARECE QUE ESTÃO CUIDANDO MAIS DE UM E ESQUECENDO O OUTRO. O OUTRO ESTÁ CRESCENDO E SE TRANSFORMANDO NUM MONSTRO QUE NÓS JÁ PERDEMOS O CONTROLE E ESTÁ ENGOLINDO TODO MUNDO”.  MV BILL.

 

 
Raquel



 Viviane

 

 

 

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