quarta-feira, 21 de julho de 2010

Artigo científico "Um olhar acerca da teoria de Skinner", por Aderlan e Dine

Pós-Graduação em Psicopedagogia/FASB

Este artigo propõe-se fazer uma abordagem acerca da teoria skinneriana, em relação à personalidade, numa perspectiva educacional pautada na idéia de que o aprendizado consiste numa mudança de comportamento, ocasionada de um resultado de uma resposta a estímulos que ocorre no meio exterior.

A teoria de Skinner restringe na abordagem comportamental, em particular, no estímulo/resposta. Uma resposta pode variar de uma simples resposta reflexiva (exemplo, salivação com comida, susto com um barulho alto) até um comportamento complexo (por exemplo, a solução de um problema matemático, formas sutis de agressão). Salienta PERVIN (2004) que é bastante crítico para uma resposta, quando ela representa um comportamento externo observável, que possa ser relacionado com os eventos ambientais. Assim, o processo do aprendizado envolve a associação ou a conexão de respostas a eventos que ocorre no meio.

Neste viés, é bastante perceptível que a todo momento o indivíduo é condicionado a estímulos que automaticamente requer uma resposta. Para elucidar esta questão, basta observar o comportamento de um professor em sala de aula. Este ensina um conteúdo que obrigatoriamente os alunos deverão aprender. Dessa forma, o aluno é estimulado a uma resposta - aprender o assunto-, o que na teoria skinneriana, é chamada de estímulo-resposta.

Sabe-se que os estudos de Skinner foram pautados na teoria do behaviorismo , fundada por Watson, que apresenta a psicologia como um ramo puramente objetivo e experimental das ciências naturais, bem como prever e controlar o comportamento de todo e qualquer indivíduo.

Segundo MILHOLLAN [et al.] (1978), quase todos os comportamentos que podem identificar incluem-se em uma de duas classes: O comportamento reflexo e o comportamento voluntário . A natureza anticientífica ou a ambigüidade de sentido das palavras reflexo e voluntário levou Skinner a dar outros nomes e esses termos e defini-los cuidadosamente.

Assim, para SKINNER (apud MILHOLLAN [et al], 1978:71):



O comportamento respondente (reflexo) abrange todas as respostas de seres humanos, e muitos outros organismos, que são extraídas ou tiradas para fora por mudanças especiais de estímulo no ambiente. Alguns respondentes são dilatação e contração das pupilas dos olhos em resposta à mudança na iluminação (...) uma lágrima derramada quando alguma coisa entra no olho.



Infere-se, daí, que todo e qualquer comportamento não pensado, que impede da vontade do operante, é um condicionamento respondente.

Por outro lado, há também o comportamento que opera no ambiente para produzir conseqüências, é o chamado comportamento operante:



Comportamento operante inclui todas as coisas que fazemos e que têm um efeito sobre nosso mundo exterior ou operam nele. Quando uma criança estende a mão para um doce, levanta a cabeça na sala de aula, escreve uma combinação ou resolve um problema de matemática, suas ações estão tendo algum efeito sobre seu ambiente.





Percebe-se, então, que o comportamento operante se aplica a uma classe de respostas que está relacionada com o meio ambiente, ou seja, uma relação voluntária em contraste com a relação involuntária típica do condicionamento respondente. O professor, ao elogiar a produção textual de um aluno, está, por exemplo, estimulando que ele continue escrevendo, ou seja, tenderá a repetir o comportamento satisfatório e a evitar aqueles que não trazem satisfação.

Mediante estes condicionamentos , é interessante salientar que Skinner desprezava claramente a idéia de atribuir ao comportamento explicações mentais, pois, segundo ele, apenas enganam e confundem, tirando a atenção das causas reais. Levava somente em consideração os aspectos ambientais e genéticos.

Com base em seu radicalismo, fora apelidado por seus colegas de “psicólogo dos ratos”, isto porque tentava explicar o comportamento humano fazendo experiências com esses animais. O que se vê, então, é que Skinner, mediante estudos e pesquisas, tornou-se um adestrador de animais ao usar os princípios que ele havia desenvolvido, denominado de condicionamento operante. Nesse condicionamento operante, o comportamento é modificado por suas conseqüências.

Desta forma, Skinner manipulava o ambiente de maneira que lhe fosse possível treinar os animais (ratos e pombos) em vez de fazer outras atividades que não fossem acrescentar em suas pesquisas. Denota daí que ele dedicou toda sua vida somente aos estudos experimentais.

É neste âmbito que a teoria skinneriana é considerada radical, pois fora desenvolvido não como um campo de pesquisa experimental, mas sim uma proposta de filosofia sobre o comportamento humano. Assim, negava a existência de fenômenos cognitivos, sendo fortemente antimaterialista.

Segundo SKINNER (apud COUTINHO & MOREIRA, 2004:61)



“os indivíduos aprendem com as conseqüências de suas ações. As pessoas tendem a repetir o comportamento satisfatório e a evitar aqueles que não trazem satisfação. Esse é o princípio explicativo do condicionamento operante.”



Com base neste contexto, são classificados os reforços presentes na relação do indivíduo com as estimulações do meio: reforço positivo, reforço negativo, reforço primário, reforço secundário, reforço de razão, reforço de razão fixa, reforço de razão variável, reforço de intervalo, reforço de intervalo fixo, reforço de intervalo variável e reforço por imitação.

Percebe-se, então, que o comportamento é controlado através da escolha de respostas que são reforçadas. Os esquemas de reforçamento podem estar baseados em um determinado intervalo de resposta. Além disso, os reforços podem ser apresentados numa razão variável. Evidencia-se, no entanto, que cada esquema de reforçamento tende a estabilizar o comportamento de maneira diferente.

Dentre estes vários tipos de reforçamento, os mais destacados na teoria skinneriana são: o reforço positivo e o negativo. O reforço positivo é todo e qualquer estímulo que, quando segue uma resposta, aumenta a força desta, ou seja, a probabilidade de sua ocorrência. Pode-se, dizer então, que é a adição de algo a uma situação quando uma resposta é dada. O professor, ao elogiar o aluno ou este ao receber uma boa nota, será fortalecido e condicionado a reagir.

Já o reforço negativo refere-se a um estímulo aversivo que, quando retirado aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta. É sempre que um operante é fortalecido pela remoção. Ao desligar a televisão quando o programa está chato; fechar a porta quando há corrente de ar frio, são exemplos de reforço negativo.

É perceptível também o processo de reforçamento negativo na caixa de Skinner. De acordo com COUTINHO & MOREIRA, (2004:62):



No lugar de liberar uma bolinha de comida no alimentador da câmara após uma ligeira pressão feita pelo ratinho em um certo dispositivo, agora o chão da caixa é que está eletrificado e o ratinho passa a receber choques de pequena intimidade. Para se ver livre dessa estimulação aversiva, o ratinho deve pressionar o dispositivo.



Cumpri mencionar ainda dentro do reforçamento negativo o condicionamento de fuga e o condicionamento de esquiva. O primeiro compete aos operantes que, fortalecidos fazem cessar algum evento corrente que o organismo considera desagradável. Todavia, o ato de tapar os ouvidos durante tempestade com trovão, ou a criança ter que estudar muito para não ouvir broncas da mãe são exemplos que elucidam o condicionamento de fuga.

No condicionamento de esquiva, os operantes são fortalecidos porque adiam ou evitam algo que o organismo antecipa como agradável. Um exemplo disso são crianças que estudam bastante para não tirar nota baixa ou obedecem a ordens para não serem castigadas.

Outro fator relevante do condicionamento operante é a punição, ação que enfraquece um comportamento. Como definiu SKINNER (apud COUTINHO & MOREIRA, 2001:67) “consiste na aplicação de estímulos aversivos imediatamente após o comportamento indesejável. A retirada do reforço positivo também pode se constituir como punição.”

Nota-se, daí, que a punição diminui a probabilidade de ocorrência do comportamento. Uma criança, ao brincar com terra e receber umas palmadas do pai, não mais brincará com terra. Vale ressaltar que a punição é diferente do reforço negativo. Ela refere-se a um desprazer - estímulo - que se faz presente após um determinado comportamento não pretendido por aquele que aplica, enquanto que o reforço negativo se caracteriza pela ausência do desprazer após a ocorrência de um comportamento pretendido por aquele que o promove.

Mediante existência do reforço positivo e negativo, também é possível apresentar punição positiva e negativa. A punição positiva ocorre quando um operante é enfraquecido pela apresentação de eventos que o sucede. O exemplo da criança que, ao brincar com terra leva umas palmadas é uma punição positiva. A negativa consolida-se quando um operante é enfraquecido pela extinção ou adiamento de um reforçador que segue. Cortar o dinheiro da mesada, por exemplo, pode enfraquecer o hábito de voltar de casa muita tarde.

Diante do exposto, pode-se ver que a teoria skinneriana está bastante presente na Educação, pois a aprendizagem decorre da relação estímulo-resposta e das conseqüências de ações praticadas.

De acordo com SKINNER (apud MILHOLLAN & FORISHA, 1978) um dos principais problemas detectados na escola é a predominância do controle aversivo do comportamento dos alunos, que passam a agir simplesmente para evitar as conseqüências desagradáveis. Uma de suas alternativas seria a prática permanente do reforço positivo. Desta forma, segundo ainda o mesmo autor, a técnica de instrução programada e as “máquinas” de ensino cumprem fielmente essa função, uma vez que elas asseguram a motivação e o controle do desempenho do aluno:



Acredita que as máquinas de ensinar apresentam várias vantagens sobre outros métodos. Estudantes podem compor sua própria resposta em lugar de escolhê-la em um conjunto de alternativas. Exige-se que lembrem mais, e não apenas que reconheçam que dêem respostas e também que vejam quais são as respostas corretas.



Interpreta-se, daí, que a máquina, na visão de Skinner, é como um professor particular, pois o aluno está sendo constantemente mediado pelo programa, uma vez que o manterá ativo e alerta.

Para SKINNER (apud COUTINHO & MOREIRA, 2004), o reforço positivo à resposta adequada dada pelo aluno deve ser contingente à resposta. O erro cometido pelo aluno deve ser punido ou reforçado para ser extinto, ou seja, a grande preocupação é a de que seja evitado o erro que, uma vez ocorrido, acarretará punição.

Nesta vertente, Skinner sugere o planejamento, a implementação e a avaliação de ensino que se pretende ministrar. Daí tem-se como princípio uma seqüência lógica de conteúdos, de tal modo que o aluno possa caminhar em seu próprio ritmo, a fim de tornar possível o reforço a todas as respostas e a todos os comportamentos operantes desejáveis, emitidos pelo aprendiz.

Em suma, constata-se que a teoria skinneriana deu grande sustentabilidade à educação, uma vez que, para ela, o aluno só aprende mediante estímulos e reforços positivos recebidos ocasionados pelo meio exterior no qual está inserido. Vê-se, no entanto, que a educação continua intrínseca a esta teoria.









REFERÊNCIAS









COUTINHO, Maria Tereza da Cunha & MOREIRA, Mércia. Psicologia da Educação: Um estudo dos processos psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem humanos, voltado para a educação. 10 ed. Belo Horizonte: Jormato,2004





FRIEDMAN, Howard S. & SCHUSTACK , Mirian W. Teoria da Personalidade: da teoria clássica, à pesquisa moderna. São Paulo: Prentice Hall, 2004.





MILHOLLAN, Frank [et al.] Skinner e Rogers: maneiras contrastantes de encarar a educação. 3ed. São Paulo: Summus, 1978.





PERVIN, Lawrence A. & JOHN, Oliver P. Personalidade: teoria e pesquisa. 8ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

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